grupo de artistas ignorou a performance das carrancas das embarcações do velho chicoO Nordeste do Brasil tem sido lugar privilegiado para experimentos de “desterritorialização” da arte - e também da ciência (esse tema será explorado em outro momento...).
.
Exemplo recente foi a Expedição Francisco que reuniu um grupo de artistas que deixou São Paulo para percorrer de 12 a 27 de abril, em um barco, o leito do rio São Francisco.
Segundo a Folha de São Paulo o grupo tinha uma idéia: “levar arte contemporânea a um cenário inóspito e fazer contato com um público alheio ao circuito dos museus paulistanos.” Ou na voz de um dos artistas: “trazer a noção de macio, de conforto, ao inóspito, lidar com a aspereza”.
.
Destaque para algumas estratégias da expedição, em site do grupo:
“A produção de obras in locu são a contribuição e o presente da tripulação para a população ribeirinha.” (no entanto, a população recusou os confortáveis e macios presentes dos artistas)
“Nabor Kisser... segue um princípio acumulativo de informação, criando uma base de dados em tempo real, tentando traduzir em forma de relações e em forma de uma interface adequada à complexidade dessa experiência (rizoma como foi usado por Gilles Deleuze e Félix Guattari para descrever a representação e interpretação da informação, sem começo, fim ou hierarquia).” (o discurso deleuzeano também justificará o fracasso de público da expedição.)
Em Petrolina, a expedição tratou de: embrulhar tudo o que os artistas viam pela frente com uma espuma sintética amarelo brilhante; gravar as intervenções em vídeo; fazer flutuar sobre o rio balões brancos de látex, “que simulavam luas cheias”; percorrer a cidade com olhos vendados; fotografar as performances; escrever diários de bordo!
O correspondente da Folha, que viajou a convite da Petrobrás, registrou ainda que “apesar da entrevista na rádio e de os artistas terem estampado a capa da "Gazeta do São Francisco", ninguém apareceu para ver...
"Nosso público não é daqui, é de São Paulo", admite Meiron, sem esconder a decepção.” (tanto esforço para atestar que o público alheio aos circuitos dos museus paulistanos seguirá alheio a essa arte contemporânea.)
"Estaria vazio mesmo que a gente estivesse esquartejando um cavalo (sic!), arrematou Kisser”. (num sentido não deleuzeano: já que a noção de macio e conforto não contaminou aquele povo inóspito, logo a noção de aspereza (do artista, no caso) também não.)
A Expedição Francisco teve o patrocínio da Funarte e Petrobrás.
Atestamos, mais uma vez, que o dinheiro público insiste em financiar eventos de intervenções nômades e expedições artísticas, altamente rizomáticos. E observe, eles proliferam aos montes e parecem que são mesmo feitos para ninguém ver.

Nenhum comentário:
Postar um comentário